Por trás daquela calcinha


Bateu os olhos em cima da moça e Rogerinho se encantou profundamente. Amor à primeira vista. Foi uma flechada certeira do cupido. Bem no meio de seu coraçãozinho apaixonado. Não enxergou mais nada naquela boate. Nem mesmo a música de corno de Reginaldo Rossi lhe machucava os tímpanos. Não viu o vômito de um beberrão ao seu lado e flutuou por cima. Estava do outro lado do salão. Mas só tinha olhos para ela. Distante. A musa encostada no balcão. Um sonho. A deusa grega que desce do Olimpo para copular com os homens. Meros mortais. Para chegar do outro lado era tão difícil quanto um parto. Não importava. Para o amor tudo é possível. O caminho de pedras perigosas. Nada disto o faria parar. Estava hipnotizado. Sonâmbulo. Atravessaria o deserto mais quente por ela. O ambiente mais hostil. Pessoas se acotovelavam. Beijavam-se. Tinham orgasmos no meio do salão. Formavam túneis. Vendavais de piruetas. Um bailar de Macarena. E nada disto fazia Rogerinho se intimidar. Ela esta lá.  A jovem do balcão. Linda e envolvente era seu único objetivo naquela noite. O escopo de sua flecha. A mulher que pediu a Deus em muitas de suas orações, ajoelhado ao lado do pinico. Debulhando um velho rosário que era de sua avó carola. E seguiu ele. Firme em seu propósito. Para conquistar a fêmea. Levar para casa arrastada pelos cabelos. O poder de um macho dominante corria por suas veias. Apesar de seus braços franzinos reduzidos a ossos e tutano. Enfim o caminho percorrido. A vitória quase certa. Poucos metros entre o balcão e ele. Poucos minutos para a conquista. Poucas horas entre ela e a cama. O primeiro passo foi fácil. Haviam muitos outros a serem percorridos. O desejo era avassalador. O medo palpitava incessante. A dúvida lhe corroía por dentro. Um minuto apenas bastava para que outro macho se aproximasse. Era uma corrida contra o tempo. O desafio constante. O frio na barriga que poderia pôr tudo a perder. E todos aqueles pensamentos de uma mente irrequieta. Estou tão perto. Dizia. Tão perto. Repetia. Tão perto. Não se conteve. Encostou-se a ela. Encouchou a fêmea. Sentiu o perfume de seus cabelos. Tão macios. Tão artificiais. Eram lindos. Vindos de um laboratório. Perfeitos. E eram naturais. Lisos. E seguiam até as nádegas. Contornavam as curvas do corpo. E terminavam todos juntos. Alinhados e cheirosos. Ela sentiu a respiração dele. E Rogerinho nas nuvens não a viu quando ela se virou para ele. De repente o susto. A surpresa alucinante. Os olhos verdes. Cílios postiços. Sobrancelhas aparadas. Nariz torneado pelas mãos de Deus. Dentes brancos. Branquíssimos. Lábios carnudos. Furinho no queixo. Covinhas nas bochechas. Mais em baixo os peitos redondos. Durinhos. Siliconados. Barriguinha tanquinho. Pernas torneadas. A oitava maravilha. Para Rogerinho a primeira. Num momento quis trepar ali mesmo. Não acreditou que ela estava sozinha. O esperando. Quis assim o destino. Os desígnios. O acaso. O que for. Ninguém mais a tirava dos braços. Partiu para a conquista. Literalmente apossou-se. Pediu o uísque. Dois copos. Ela aceitou. Um Single Malt com duas pedras de gelo. Foi fácil. Até demais. Não importa. Sou muito homem. Pensou ele. Homem até demais. Repetiu. E com seus braços delgados agarrou a moça. Era dele. Só dele. Ninguém mais a tiraria. Nem mesmo o mais forte. Gladiaria por ela. Enfrentava todas as feras. O leão. O tigre e o lince. Entre o balcão e toda aquela gente não titubeou. Sem tomar conhecimento da situação agarrou a moça e a beijou. Foi a Paris e voltou. Jogou-se da torre Eiffel e caiu no paraíso. Nos braços da mais bela ninfa. Que beijo. Cinematográfico. Quente. Úmido. Apaixonado. As línguas se entrelaçaram. E fizeram o nó do amor. Firme. Irretorquível. Cego. Cego. Pegou nas mãos dela. Tão delicada. Tão feminina e pálida. Sem anel. Sem compromisso. Era só dele. De Rogerinho. O macho alfa. Imponente. O melhor daquela boate. E a puxou daquele balcão. Tirou a moça dali. Em meio a tantos olhares maldosos. Desejosos. Sedentos. Tateou a multidão. Abriu espaço entre os corpos. Um túnel se formou para o casal passar. Foi novelesco. Quixotesco. Sublime. Rogerinho estava resoluto. Poucas palavras. Olhares que diziam tudo. Ela o aceitou. Foi arrematada por um sentimento maior. Nem mesmo os sentidos puderam sentenciar a ilusão. Foi da alma. De vidas passadas. Perpassadas pelo fio da ventura. Tateou ele o que restava em sua carteira. Algumas moedas. Que se dane o táxi. Foram de ônibus. Que importa a viagem. A casa é perto. O quarto é quente. O pinico estava bem escondido em baixo da cama. Subiram com calma. Cada degrau. O motorista olhou para a moça. Fascinado. O cobrador ficou excitado. Rogerinho sentiu ciúmes. Eivou-se com um sentimento torpe. Possessivo. Grotesco. Agarrou com mais força a cinturinha fina de sua amada. Entregou as moedas e não quis o troco. Foi para os últimos bancos. Mais um beijo. O amasso inicial. Sentiu a pele. O peito dela roçar no seu. Quase teve um orgasmo. Mal começou e já desceram do ônibus. Poucas quadras. Abriu a porta com calma. Nem um ranger de dobradiças. Pé por pé entrou em casa. Sua avó roncava no quarto ao lado. A janta estava no fogão. Fria. Assim como o ambiente. Arrumou o lençol de sua cama de solteiro. A sua amada consentiu. Deitaram. Ele por cima dela. Não havia muito espaço. Quanto desejo. O fogo que queimava. Aquela mulher tão linda. Ali junto a ele. Um sonho. Tirou-lhe o tomara-que-caia. Chupou os bicos dos seios. Estavam a ponto de explodir. Ele e ela. Ela e ele. Num ardor infernal. Delicioso. Majestoso. Rogerinho não se conteve. Quis lamber o clitóris da moça para lhe fazer um agrado. Meteu a mão na boceta em chamas. A olhou fixamente. Não acreditou no que sentiu. Meteu a mão de novo para ter certeza. Deu um grito fino. Desesperado. Aturdido. Desconsolado. E descobriu que por trás daquela calcinha havia um pênis ereto e rígido pronto para lhe penetrar...

0 comentários:

Postar um comentário

O título é um tanto sugestivo e não por acaso coloca o próprio autor longe de casa, à deriva que busca um terreno seguro para ancorar. Cansado por navegar e perceber que não há mais terras seguras, um lar. O ser humano quer direitos iguais a pretexto de agredir seu próximo. Este blog está marcado e saturado por contos irreais e ao mesmo tempo povoa não só o imaginário, é o próprio real forjado nas linhas que os compõem.

Disseram-me um dia que eu deveria falar de coisas reais, de coisas normais e compor os mais belos poemas para saudar a Criação. Pobres ingênuos, ou cegos, ou mentirosos. É exatamente isso que faço, colocar nas entrelinhas o que há tempos se tornou normal e convive lado a lado com toda loucura humana. Normal é a prostituição, o esvaziamento de si mesmo para dar lugar aos instintos mais perversos. Normais são os vícios e tudo aquilo que envolve a aura libertina, desregrada e compartilhada o que leva ao fundo do poço a alma mais perturbada. O normal de hoje é a transgressão moral, queimar as tábuas e tudo que foi nos deixado através da dor e sangue. O normal de hoje são os vínculos materiais, as bolhas e tudo que pode se acumular visualmente para que possa ser mensurado, cobiçado e amado. É normal ver as posições trocadas entre homens e mulheres e não poder dizer que não é natural sem ser censurado e taxado como um canalha preconceituoso. Tudo bem, direi que é normal, mas meu pensamento continuará na canalhice pois não posso abortar preceitos que aprendi com tantas gerações. Normal é ser normal, descarado, doutrinado e condutor de uma ordem que tão pouco desconhecem.

Enquanto isto, coisas anormais se tornam ainda mais escassas. O verdadeiro amor sem interesses, sem vilipêndios semânticos, o puro e simples de estar por estar. Longe se esvai o respeito ao próximo, os contratos voluntários o caminhar sem medo. E tudo fica distante e complicado demais para entendermos, pois o que era normal está morrendo e voltando para algum lugar para quem sabe, um dia voltar com mais força.