Mariazinha

Na sala com um retrato nas mãos...

Marido ignóbil – Tão pura

Mulher – doce – Cristalina

Maridopétreo – Ingênua

Mulher para si mesma – Imaculada

Marido deslumbrado – Um anjo

Mulher incerta – Uma flor

Marido num sonho – Digna de carregar o próprio Cristo no ventre

Mulher condenando – Daria à luz virgem, virgem!

Marido taciturno – Tão doce

Mulher desapontada – Não conhece os pecados do mundo

Marido num relapso – Serena

Mulher num suspiro – Cheia de vida

Marido num lamento – Uma menina

Mulher acusadora – Uma mulher

Marido surpreso – Nossa filha

Mulher veemente – Nosso fruto

Marido protetor – Intocável pela maldade da serpente

Mulher enamorada – Feita de amor

Marido apaixonado – Do nosso amor

Mulher ávida – Um amor sequioso

Marido triunfante – Desejado

Mulher Espantada – Instintivo

Marido excitado – Arrebatador

Mulher aturdida – Louco

Marido num grito – Louco!

Mulher desapontada – Violado

Marido colérico – Violento!

Mulher retraída – Incauto

Marido num sorriso – Nasceu Maria

Mulher distante – Mariazinha...

Marido doce – Cresceu

Mulher num desespero – Se tornou mulher

Marido num desejo – Nossa Mariazinha

Mulher num alívio – Tão meiga

Marido cabisbaixo – Inocente

Mulher acusadora – Reclusa dentro de si

Marido desapontado – Não arde em chamas

Mulher num remorso – Não peca

Marido atônito – Não tem maldade

Mulherpensativa – Tão santa

Maridopreocupado – Distante dos amores da vida

Mulhernum suspiro – Mariazinha

Maridomalicioso – Inviolada

Mulhertriste – Desnuda dos prazeres carnais...

Num quarto mais adiante...

Mariazinhano telefone – É do setor de anúncios?

Atendente num ato – Sim

Mariazinhanum suspense – Bate aí... taxativa – Maria ninfeta cheirosinha. Liberal e quente. Sedenta por sexo. Adora anal e beijo na boca...

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O título é um tanto sugestivo e não por acaso coloca o próprio autor longe de casa, à deriva que busca um terreno seguro para ancorar. Cansado por navegar e perceber que não há mais terras seguras, um lar. O ser humano quer direitos iguais a pretexto de agredir seu próximo. Este blog está marcado e saturado por contos irreais e ao mesmo tempo povoa não só o imaginário, é o próprio real forjado nas linhas que os compõem.

Disseram-me um dia que eu deveria falar de coisas reais, de coisas normais e compor os mais belos poemas para saudar a Criação. Pobres ingênuos, ou cegos, ou mentirosos. É exatamente isso que faço, colocar nas entrelinhas o que há tempos se tornou normal e convive lado a lado com toda loucura humana. Normal é a prostituição, o esvaziamento de si mesmo para dar lugar aos instintos mais perversos. Normais são os vícios e tudo aquilo que envolve a aura libertina, desregrada e compartilhada o que leva ao fundo do poço a alma mais perturbada. O normal de hoje é a transgressão moral, queimar as tábuas e tudo que foi nos deixado através da dor e sangue. O normal de hoje são os vínculos materiais, as bolhas e tudo que pode se acumular visualmente para que possa ser mensurado, cobiçado e amado. É normal ver as posições trocadas entre homens e mulheres e não poder dizer que não é natural sem ser censurado e taxado como um canalha preconceituoso. Tudo bem, direi que é normal, mas meu pensamento continuará na canalhice pois não posso abortar preceitos que aprendi com tantas gerações. Normal é ser normal, descarado, doutrinado e condutor de uma ordem que tão pouco desconhecem.

Enquanto isto, coisas anormais se tornam ainda mais escassas. O verdadeiro amor sem interesses, sem vilipêndios semânticos, o puro e simples de estar por estar. Longe se esvai o respeito ao próximo, os contratos voluntários o caminhar sem medo. E tudo fica distante e complicado demais para entendermos, pois o que era normal está morrendo e voltando para algum lugar para quem sabe, um dia voltar com mais força.